Com a regulamentação do mercado de carbono após a COP 29, as empresas passam a ter novos desafios e oportunidades para adotar práticas sustentáveis. A implementação de mecanismos para gestão de emissões ganha relevância também no setor de medicina diagnóstica, alinhando-se às metas globais de sustentabilidade.
Segundo Daniel Périgo, líder do Comitê de ESG da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) e gerente de Sustentabilidade do Grupo Fleury, o principal ponto da nova regulamentação é estabelecer regras claras para que a compra e troca de créditos de carbono entre países seja feita corretamente. “Na medicina diagnóstica, as empresas podem adquirir créditos para compensar suas emissões ou, caso tenham projetos significativos de redução, cadastrá-los como fontes de venda de créditos”, explica.
No entanto, ele diz que isso só vale a pena se a redução de emissões e potencial geração de créditos for significativa, porque é necessário investir em documentação e auditoria do projeto. “O mais importante é entender que a compensação é paliativa, pois não resolve o problema em si – é fundamental reduzir as emissões propriamente ditas”, acrescenta.
Périgo acredita que a regulamentação do mercado de carbono, isoladamente, não será o principal motor de incentivo para práticas ESG no setor. “Outros mecanismos, como fundos de financiamento, regulamentação específica para a saúde e padronização de protocolos de atendimento a pacientes afetados por mudanças climáticas podem ser mais eficazes, devido à maior correlação entre o clima e a saúde”, aponta.
Segundo ele, o valor estratégico da gestão de emissões é inegável, uma vez que seus impactos são amplamente sentidos por diversos setores econômicos, incluindo a saúde. “Um processo robusto para mensuração e redução de emissões, a avaliação de riscos e oportunidades climáticas e a criação de planos de adaptação são fundamentais para aumentar a resiliência das organizações, reduzir custos e perdas e minimizar seus impactos nas operações”, destaca.
Monitoramento das emissões
A aplicação de inteligência artificial (IA) e Internet das Coisas (IoT) surge como uma solução para monitorar e reduzir emissões no setor. “Essas tecnologias permitem um controle mais preciso do uso de recursos naturais, melhor gestão de insumos, otimização de frotas logísticas e redução de desperdícios”, explica Périgo. Ele ressalta a importância do uso de bases de dados confiáveis para garantir medições precisas e decisões mais assertivas.
Por se tratar de um desafio global, é importante a coordenação e articulação entre vários atores da sociedade, e que a elaboração de políticas públicas neste sentido é uma fonte de estímulo e orientação para a adoção de padrões mais sustentáveis. “Existem perspectivas de uma maior regulamentação do governo com relação aos processos de emissões de gases do efeito estufa, podendo ir de possíveis mecanismos de taxação em função do volume de CO2 gerado até programas de incentivo para a adoção de processos mais ecoeficientes”, explica.
Expectativas para a COP 30
Sobre a COP 30, que será realizada no Brasil, em novembro deste ano, sabe-se que grande parte da pauta estará focada em mecanismos de financiamento climático e uso de biocombustíveis, além da definição de metas de redução de emissões mais ambiciosas frente ao momento atual.
“Isso será desafiador, especialmente em um cenário global onde países e governos demonstram maior desalinhamento em relação ao tema. Assim, as relações diplomáticas deverão desempenhar um papel de grande relevância para garantir o avanço das discussões”, aponta.
Périgo explica que a saúde possui um papel fundamental em relação à agenda climática, e é um elemento importante quando se fala das consequências socioambientais dessas mudanças, uma vez que grande parte dos seus impactos iniciais, especialmente nas emergências climáticas, é absorvida pelo setor.
“No entanto, há a necessidade de uma articulação mais proativa e organizada da área de saúde brasileira com relação à pauta, de modo a desempenhar um papel mais protagonista, especialmente neste ano de COP no Brasil”, conclui.
Fonte: Abramed