Fruta é plantada primeiro e, quando encerra seu ciclo, dá lugar a cafezais de conilon
Em uma lavoura na região de Linhares (ES), os mamoeiros adultos estão carregados de frutas em diversos pontos de maturação. Uns mamões ainda estão mais esverdeados, outros já exibem seu tom amarelado característico. Ao lado de cada árvore, cresce um pé de café conilon. O consórcio entre as duas plantas, afirmam técnicos, é comum no Estado, com resultados agronômico e financeiro positivos.
O método de manejo une duas culturas representativas para o agronegócio capixaba. O Espírito Santo é o principal produtor de café conilon do Brasil. De acordo com a Companha Nacional de Abastecimento (Conab), a colheita deste ano é de 9,967 milhões de sacas, para um total de 15,204 milhões de sacas da variedade no país.
O Estado também está entre os maiores produtores nacionais de mamão. Dados da Abrafrutas indicam que, em 2023, a safra foi de 352,046 mil toneladas, o equivalente a 30,93% da colheita nacional. Fica atrás apenas da Bahia, com 354,525 mil toneladas, ou 31,14% do total do país.
Nas exportações, o Espírito Santo é líder nacional. De janeiro a setembro de 2024, embarcou 13,99 mil toneladas de mamão, gerando um faturamento de US$ 20,70 milhões. Em seguida, aparecem o Rio Grande do Norte, com 10,65 mil toneladas (US$ 12,44 milhões) e a Bahia, com 2,676 mil toneladas (US$ 3,69 milhões).
“Na nossa região, é muito raro você ver só mamão ou só café. Casou tão bem esse consórcio, que, quando você renova uma área de café, entra com mamão e, depois de alguns meses, quando a produção está começando, entra com o café”, explica José Eugênio Fontes Carvalho, engenheiro-agrônomo da Doce Fruit, sediada em Linhares.
A empresa produz e exporta mamão. Também cultiva e comercializa café. No Espírito Santo, mantém 350 hectares de mamoeiros. Em 92% da área, os pomares estão consorciados com cafezais irrigados por sistemas de gotejamento.
No sistema de consórcio, as duas culturas compartilham as linhas de plantio, com uma “ao pé” da outra. Implantado primeiro, o mamão se desenvolve e estabelece sua fase produtiva. Quando é colocado no campo, o café está em um solo preparado e se mantém sombreado para reduzir o estresse causado por um calor extremo, o que tende a ser benéfico, especialmente, em períodos de grande instabilidade climática.
“É preciso ter ciência de que se está trabalhando com duas culturas ao mesmo tempo. É importante fazer análise de solo, análise foliar e basear as recomendações de manejo nas análises”, recomenda o agrônomo.
Manejo
Uma das opções para manejar essa “lavoura dupla” de forma eficiente é utilizar a chamada fertirrigação, acrescenta Carvalho. O sistema de gotejamento, além de manter a hidratação das plantas, deposita no solo uma mistura de nutrientes. Em períodos de maior volume de chuva, quando há umidade suficiente para as plantações, o produtor pode fazer a adubação de forma convencional.
Mamão e café compartilham o terreno até o mamoeiro chegar ao estágio em que a colheita deixa de ser economicamente viável. O pé da fruta, então, é retirado e os talhões passam a ter apenas os pés de café conilon já maturados e em fase produtiva.
“Raramente, você vai ter uma roça de mamão produzindo e o café também. Porque pode esgotar o solo, já que você tem duas culturas que demandam muitos nutrientes. Por isso que é intercalado. Quando o café dá indício de produção, é quando vai cortar o pé de mamão”, resume.
Além de fazer bem para o solo e as plantas, o consórcio entre mamoeiro e cafezal é bom também para o bolso do produtor, avalia Carvalho. Como o café demora mais tempo para começar a produzir, o mamão já desenvolvido é fonte de renda para o produtor, além de garantir o custeio de produção do conilon até o início da colheita.
Engenheiro agrônomo do Instituto Capixaba de Pesquisa e Extensão Rural (Incaper), Wellington Marré faz avaliação semelhante. Conciliando uma cultura semiperene (mamão) com uma perene (café), o sistema possibilita um aproveitamento mais eficiente da área, recursos e mão-de-obra, com benefício financeiro.
“A implantação do café canephora (espécie das variedades robusta e conilon) se dá por mudas clonais. Com dois anos começa a produzir. O produtor vai ficar dois anos sem essa receita. Nesse período de dois anos, o mamão vai trazer a renda que o produtor não terá com a lavoura de café”, reforça o especialista.
A implantação do consórcio começa na preparação da área. Se é um cafezal velho, o produtor arranca os pés improdutivos, determina as linhas abrindo os sulcos de plantio e faz a adubação. Segundo Marré, os nutrientes para as duas culturas são praticamente os mesmos, o que já permite um uso mais eficiente do insumo.
Com a terra pronta, planta-se o mamão. O agrônomo do Incaper explica que a escolha da variedade é importante para o planejamento do manejo consorciado. A depender do tipo, o mamoeiro pode levar mais ou menos tempo para iniciar a fase produtiva, o que determina o momento do plantio do café.
Fonte: Portal Globo Rural