Como mudar a alimentação para reduzir sua pegada de carbono

Imagem: Wirestock/Getty Images

Reduzir o consumo de carne vermelha, aumentar a ingestão de alimentos de origem vegetal e priorizar produtos locais e da estação são atitudes simples, que podem tornar uma dieta mais sustentável, ou seja, capaz de atender às necessidades nutricionais e também preservar o ambiente, garantindo a viabilidade de recursos naturais para as próximas gerações.

Ao fazer essas opções, diminuímos nossa pegada de carbono – medida que quantifica o total de gases de efeito estufa, especialmente dióxido de carbono (CO2), emitidos direta ou indiretamente por atividades humanas – e contribuímos para a meta da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) de reduzir a média global individual de 6.3 toneladas emitidas em 2020 para 2.1 toneladas em 2030.

Estudos e especialistas estimam que a contribuição da dieta para a pegada de carbono individual possa chegar a 30%, embora esse valor varie de acordo com hábitos, escolhas e práticas locais de produção.

O regime alimentar do brasileiro é um exemplo disso: tem pegada de carbono média de 4.489gCO2e/pessoa/dia, de acordo com um estudo da USP (Universidade de São Paulo), excedendo em cerca de 30% o ideal. Para se ter uma ideia, o valor equivale às emissões de um carro que roda por 8 quilômetros.

Repense o consumo de carne

“Antes de tudo, é importante lembrar que, em um país com desigualdade social elevada como o Brasil, devemos ser cuidadosos em recomendações desse tipo”, diz Aline Martins de Carvalho, professora da Faculdade de Saúde Pública da USP. “Portanto, para quem tem acesso e consome muita carne bovina, reduzir essa ingestão é não só sustentável, mas saudável – uma ideia é adotar, por exemplo, o conceito de ‘segunda-feira sem carne’.”

Um estudo realizado por pesquisadores da Escola da Medicina da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, mostra que substituir a carne bovina por opções mais sustentáveis pode levar a uma redução superior a 50% na pegada de carbono diária de uma pessoa.

Em quilogramas de dióxido de carbono equivalente, os produtos animais que mais emitem GEE (Gases de Efeito Estufa) são:

  • Carne bovina: 99,48 kgCO2e
  • Cordeiro e carneiro: 39,72 kgCO2e
  • Leite: 33,3 kgCO2e
  • Camarão (cultivado): 26,87 kgCO2e
  • Queijo: 23,88kgCO2e
  • Carne suína: 12,31 kgCO2e
  • Aves: 9,87 kgCO2e Ovos: 4,67 kgCO2e

E, ao consumir carne bovina, o ideal é optar por produções sustentáveis, que adotem práticas que evitem o desmatamento, reduzam o desperdício de água e minimizem o uso excessivo de produtos químicos.

Coma mais vegetais

“A produção de alimentos de origem vegetal emite uma quantidade bem menor de GEE, sendo o arroz produzido por alagamento o maior emissor”, diz Carvalho. E, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), menos de 10% dos brasileiros ingere a quantidade diária de vegetais recomendada pela ONU, que é de 400 gramas.

A professora sugere, inclusive, feijões como substitutos das carnes, por serem ricos em proteínas e ferro.

Coma cascas, talos e sementes

Para reduzir o desperdício de alimentos – que, nos aterros, ao sofrerem decomposição liberam metano, um dos principais GEE -, consuma-os por inteiro sempre que possível. “Muitas partes descartadas são ricas em nutrientes e podem ser transformadas em novas receitas”, lembra Carvalho. O site do projeto Sustentarea, da USP, dá ideias de receitas simples, saudáveis e sustentáveis.

Não desperdice nada, aliás

“Evitar o desperdício é uma das ações básicas para reduzir a nossa pegada de carbono – e o brasileiro desperdiça cerca de 40 quilos de alimentos por ano, uma quantidade bem significativa”, lembra Felipe Seffrin, coordenador de comunicação do Instituto Akatu. “Quando desperdiçamos um alimento, estamos deixando de consumir algo que emitiu GEE na sua produção, transporte e armazenamento.”

Uma pesquisa da Embrapa mostra que os principais alimentos desperdiçados nas residências são arroz, feijão e carne. É preciso ficar atento também às sobras no prato.

Prefira alimentos locais e da estação

“Eles geralmente não necessitam de substâncias químicas para crescer fora do seu período natural, resultando em uma produção mais sustentável, e têm uma pegada de carbono menor, já que não requerem longos transportes e armazenamentos, responsáveis por aumentar suas emissões”, afirma Seffrin.

Reduza o consumo de industrializados

Além dos recursos consumidos no processamento ou ultraprocessamento, esses alimentos podem influenciar na sua pegada de carbono ao gerar grandes volumes de embalagens, que acabam em aterros. A saúde também agradece: esses alimentos frequentemente contêm altos níveis de açúcar, sódio e gorduras.

Pense antes de fazer as compras

Especialistas consultados por Ecoa sugerem montar um cardápio semanal, com os alimentos e quantidades a serem consumidas, e comprar de acordo com essa lista. Fique de olho nas datas de validade e considere o local onde você mora – em regiões de clima quente, perecíveis se deterioram mais rapidamente.

Armazene corretamente

Frutas e vegetais frescos – além de leite, queijos e carnes – devem ser guardados na geladeira para prolongar sua validade e evitar o descarte precoce. “Além disso, cozinhar em maior quantidade e congelar porções extras é uma ótima estratégia para evitar desperdícios”, diz Carvalho.

Fonte: Aline Martins de Carvalho, professora da Faculdade de Saúde Pública da USP; Felipe Seffrin, coordenador de comunicação do Instituto Akatu; Embrapa; Food and Agriculture Organization of the United Nations; Science; United Nations Climate Change.

Publicação: Portal Uol

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