Na produção tradicional, retenção maior que emissão aponta balanço de carbono que retira 3 toneladas de CO2 equivalentes por hectare ao ano da atmosfera; emprego de práticas sustentáveis eleva o balanço benéfico para 8,24 t de CO2eq/ha/ano
O cultivo de café conilon no Espírito Santo possui balanço de carbono negativo, ou seja, retém mais gases de efeito estufa do que emite em todo o seu processo produtivo. A conclusão vem da pesquisa “Balanço de GEE do Café Conilon Capixaba”, promovida pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), em colaboração com o Programa de Desenvolvimento Sustentável da Cafeicultura do ES, da Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), sob condução técnico-científica do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) e do professor Carlos Eduardo Cerri, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq/USP).
A pesquisa teve dois objetivos: calcular os balanços de carbono da produção tradicional de café conilon e daquela que adota práticas mais sustentáveis, considerando pastagem como uso anterior do solo, e estimar a adicionalidade gerada pela alteração do manejo agrícola, partindo de um cenário de cultivo tradicional de café conilon para aquele que adota práticas mais conservacionistas, entre elas, o retorno dos resíduos de pós-colheita ao solo, a manutenção dos resíduos das podas nas lavouras, a prática de cobrir o solo na entrelinha do café, na fase inicial da lavoura, e a preferência por adubos orgânicos ou organominerais.
“A definição do uso anterior do solo levou em consideração as discussões globais relacionadas à adaptação e à mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, às novas regras de comércio antidesmatamento e à garantia de segurança alimentar, reconhecendo o potencial da agricultura brasileira em atender à demanda crescente por alimentos, fibras e bebidas, entre os quais o café, sem expandir a fronteira produtiva para áreas de vegetação nativa”, explica o presidente do Cecafé, Márcio Ferreira.
No cenário de mudança de uso do solo a partir de pastagem, o balanço de carbono da produção tradicional é de menos 3,01 toneladas de CO2 equivalentes por hectare ao ano, resultado que leva em consideração o sequestro de 6,91 tCO2/ha/ano retidas no solo, subtraídas as 3,9 tCO2e/ha/ano emitidas por meio da aplicação de fertilizantes nitrogenados, resíduo de podas, queima de combustíveis fósseis e outras fontes de emissão que fazem parte do manejo do café.
A adicionalidade de carbono cresce quando se considera a mudança de uso do solo de pastagem para produção de conilon com a adoção de práticas sustentáveis, cujos cafezais possuem balanço de carbono de menos 8,24 tCO2eq/ha/ano, resultado que leva em consideração o sequestro de 12,22 tCO2eq/ha/ano retidas no solo e um total de 3,98 tCO2eq/ha/ano emitidas durante o processo produtivo.
“A implementação de práticas sustentáveis no cultivo do café conilon quase triplica a retenção de gás carbônico equivalente no solo em relação à produção tradicional, no cenário de transição de pastagens à cafeicultura, tornando a atividade ainda mais ‘carbono negativo’. E é sempre válido recordar que, quando falamos negativo, no que se refere ao balanço de carbono, em verdade estamos mencionando um resultado positivo ao meio ambiente”, explica o professor Cerri.
Em outro cenário, quando se analisa a alteração do manejo agrícola, partindo do cultivo tradicional para a atividade cafeeira com adoção de práticas mais conservacionistas, o conilon capixaba também registra balanço negativo de carbono, da ordem de menos 1,36 tonelada de CO2eq por hectare ao ano.
“Os resultados dos três cenários analisados são favoráveis à mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, uma vez que a intensa emissão de gases de efeito estufa é uma das principais causas do aquecimento global, e a adoção de boas práticas agrícolas no cultivo do café aparece como uma forma de contribuir, ainda mais, nesta atenuação”, analisa Laura Polli, uma das técnicas responsáveis pelo estudo.
O secretário de Agricultura do Espírito Santo, Ênio Bergoli, interpreta que os resultados obtidos ressaltam a importância do Programa de Desenvolvimento Sustentável da Cafeicultura do Estado, que conta com 27 projetos, destacando-se o referente à adequação de oito mil propriedades cafeeiras no processo de sustentabilidade até o fim de 2026. O investimento nessa ação é de RS 5,45 milhões. (saiba mais aqui).
“A cafeicultura capixaba impulsiona a economia estadual com o avanço da sustentabilidade e da tecnologia. O programa lançado no último ano vem ampliar a difusão das práticas sustentáveis na cafeicultura e a adoção das práticas ESG, além de dar suporte para nossos produtores serem inseridos nesse processo de adequação das propriedades. Atuando em cima dos indicadores econômicos, ambientais e sociais propostos, os produtores vão conquistar melhor desempenho e resultado econômico, sendo, portanto, mais competitivos e atendendo aos mercados mais exigentes. Isso resultará na preservação e na conservação de recursos naturais, além de promover a melhoria na qualidade de vida nas propriedades cafeeiras”, ressalta o secretário.
O Gerente de ESG do Imaflora, Alessandro Rodrigues, adiciona que a pesquisa destaca os esforços de conservação ambiental realizados pelos cafeicultores capixabas, uma vez que, nas propriedades rurais avaliadas no estudo, há, em média, 338,67 t de CO2eq estocados na forma de vegetação nativa. “Este é um benefício ambiental não computado no balanço de GEE do café conilon e denota que, no Brasil, a produção de café e a conservação do meio ambiente estão unidas”, revela.
Bergoli destaca, também, o potencial de conexão da cafeicultura do ES com os investimentos verdes, por meio dos diversos instrumentos de financiamento disponíveis para a ampliação da adoção do manejo sustentável nas lavouras. A adicionalidade de 8,2 toneladas de carbono obtida com o cultivo sustentável de café conilon é um fator determinante para investimentos na recuperação de cerca de 60% das pastagens capixabas, que possuem níveis de degradação de moderada a severa.
“Em suma, os resultados evidenciam o potencial do Brasil para atender à crescente demanda de indústrias e consumidores globais por produtos sustentáveis e revela que a adoção das boas práticas se faz vital para atenuar os efeitos climáticos extremos, mitigando impactos econômicos na renda dos produtores”, complementa o presidente do Cecafé.
METODOLOGIA
Para quantificar o sequestro de carbono, foram coletadas 22 situações de solo, com até um metro de profundidade, respeitando a metodologia reconhecida pelo Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), das regiões produtoras no norte e no sul do Espírito Santo, com o mesmo teor de argila, e representativas dos modais produtivos tradicional e sustentável de café conilon e de áreas de pastagens.
Em paralelo, foram obtidas informações dos insumos aplicados e das operações associadas à produção de café conilon, tradicional e sustentável, em 25 propriedades cafeeiras, para que se alcançasse o inventário das emissões de GEE com base na metodologia fornecida pelo Programa Brasileiro GHG Protocol – reconhecida internacionalmente e amplamente utilizada em diferentes setores da economia.
PARCEIROS
A pesquisa “Balanço de Gases de Efeito Estufa do Café Conilon Capixaba”, realizada pelo Cecafé, em parceria com o Governo do Estado, através do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), conta com o patrocínio de Fondazione Giuseppe e Pericle Lavazza Onlus, Balcoffee, Grupo Tristão, JDE Peets, Sebrae-ES e Sistema OCB/ES, além dos parceiros implementadores Cafesul, COFCO INTL, Cooabriel, Natercoop e Sucafina.