A startup brasileira Mombak vai vender até 1,5 milhão de créditos de carbono de reflorestamento para a Microsoft até 2032, numa transção icônica para o nascente mercado de offsets de remoção de carbono baseados na restauração florestal no Brasil.
Trata-se de um dos maiores contratos do tipo no mundo e o maior contrato isolado dessa natureza fechado pela gigante de tecnologia, que tem o compromisso de se tornar negativa em carbono – isto é, sequestrar mais carbono do que emite – até 2030.
As empresas não abriram preços por tonelada de carbono e nem condições do contrato. Na semana passada, a Mombak anunciou seu primeiro contrato, com a McLaren Racing, por “mais de US$ 50 por tonelada” – e sinalizou que não esperava deals muito abaixo deste preço. (Cada crédito equivale a uma tonelada de carbono removido da atmosfera.)
“A demanda é várias ordens de grandeza maior que a oferta. Na verdade, tendemos a não vender agora para poder vender no futuro. A expectativa é que o preço vá subir”, disse na ocasião.
Os créditos comprados pela Microsoft serão suficientes para reflorestar uma área de cerca de 30 mil hectares, equivalente a quase cinco ilhas de Manhattan. Ao todo, serão 30 milhões de árvores de mais de 100 espécies nativas brasileiras, incluindo várias ameaçadas de extinção.
“No caminho para a Microsoft se tornar carbono negativa até 2030, é importante investir em projetos como esse, escaláveis, de alta qualidade, com a Mombak, que vem com grandes co-benefícios sociais e ambientais”, disse em nota Brian Marrs, diretor sênior de energia e remoção da Microsoft.
O aval da Big Tech é uma chancela importante para a Mombak – e para o mercado de reflorestamento brasileiro. A companhia é percebida como uma das mais rigorosas no seu processo de compra de créditos de carbono, com várias etapas de due diligence, de forma a tentar evitar os riscos reputacionais de projetos que não conseguem entregar o que prometem.
“O reflorestamento da Amazônia é a maior oportunidade de remoção de carbono do mundo”, afirma o Fernandez, da Mombak.
Fundada em 2021, a startup compra terras com pastagens degradadas ou se associa a proprietários na região amazônica e faz a restauração da vegetação nativa. A empresa recebeu aporte de fundos como o Kaszek Ventures e Union Square. Mas, mais do que equity, trabalha com um modelo em que levanta recursos em fundos dedicados para projetos específicos.
O primeiro deles, de US$ 100 milhões, contou com aportes do fundo de pensão canadense CPP, da Bain Company e da seguradora francesa Axa, além de ONGs como a Rockerfeller Foundation e a Conservação Internacional.
Os recursos devem permitir o reflorestamento de até 10 mil hectares. O contrato com a Microsoft já dá uma âncora de demanda para o próximo fundo, que deve começar ser prospectado no próximo ano.
Atualmente, a Mombak está desenvolvendo seu primeiro projeto numa área própria de 3 mil hectares em Mãe do Rio, a quatro horas de Belém – e a ideia é manter os primeiros projetos todos no Pará, para se aproveitar das economias de escala. Dois viveiros de espécies nativas foram criados na região apenas para a atender a demanda da Mombak.
Recentemente, fechou parcerias com outras duas fazendas na região, num modelo mais asset light, em que se associa com os donos de propriedades, num modelo de compartilhamento de receita. Normalmente, as áreas degradadas são ocupadas por pastagens para gado de baixa produtividade.
A Mombak tem como meta produzir 1 milhão créditos de carbono por ano até 2030. Hoje, segundo a empresa, esse mercado – que cresce a velocidade exponencial em meio aos compromissos de descarbonização – gira em torno de 5 milhões de toneladas anuais.
Por Natalia Viri
Exame.com