Para reflorestar 12 milhões de hectares, país precisaria de até 1 bilhão de mudas por ano
A baixa oferta de mudas de árvores nativas associada à dificuldade de acesso a crédito limitam o avanço do setor de restauração florestal no Brasil. Os gargalos foram apontados por empresários do setor reunidos em São Paulo para discutir os desafios do país para fazer frente ao compromisso firmado no Acordo de Paris de reflorestar 12 milhões de hectares – o que demandaria até 1 bilhão de mudas ao ano segundo cálculos do setor.
“Se a gente falar por base em 1 bilhão de mudas, a gente precisaria mais do que duplicar a quantidade de viveiros e mais que dobrar a capacidade dos já existentes e hoje a gente não tem políticas públicas ou verbas disponibilizadas para essas empresas”, destaca o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Sementes e Mudas Nativas (Nativas Brasil), Rodrigo Ciriello.
Ele lembra que o compromisso assumido pelo Brasil no Acordo de Paris já completou mais de oito anos sem a criação de incentivos ao setor de mudas e sementes nativas. A demanda, por outro lado, tem crescido consistentemente na esteira de projetos de restauração de mitigação de emissões de gases do efeito estufa assumidos por grandes companhias.
“Tem iniciativa prometendo restaurar um milhão de hectares, três milhões de hectares e pelo menos de 30% a 40% disso serão mudas o que vai demandar bilhões de unidades – e não tem”, completa o viveirista.
O crescimento da procura pelo insumo-base da restauração florestal também é mencionado pelo conselheiro fiscal da Sociedade Brasileira de Sistemas Agroflorestais, Antonio Marchiori. Segundo ele, o Brasil tem vivido um “ambiente favorável” para o setor diante dos compromissos de enfrentamento às mudanças climáticas e a busca por novos modelos de produção agropecuária.
“A gente não tem dados seguros para dizer o quanto está crescendo, mas o setor de orgânicos cresce de 20% a 30% ao ano e acredito que os Sistemas Agroflorestais podem estar até superando essa quantidade, apesar de ser um segmento ainda pequeno”, observa Marchiori.
Apesar do ambiente favorável, empresários que atuam no ramo de recuperação de áreas degradadas ou com sistemas agroflorestais reclamam da falta de políticas de crédito adequadas para os modelos de negócio que estão surgindo no país. “A gente tem muita oferta de capital, isso cresceu muito nos últimos anos, mas ainda não é o tipo de capital adequado para a restauração florestal”, comenta o fundador da Belterra, Valmir Ortega.
Com 2 mil hectares de agrofloresta já implementados no país e outros 8 mil contratados, a empresa tem buscado articular outros atores da cadeia produtiva para criar um grupo permanente de discussão e organização. Dentre os principais gargalos, ele destaca o prazo das linhas de crédito oferecidas atualmente. “Quando falamos de floresta, falamos de ciclos longos, de 15 a 20 anos, e hoje os financiamentos olham para um horizonte muito mais curto”, pontua o executivo.
Segundo ele, o momento é favorável para a criação de uma entidade representativa, dado o tamanho do mercado e a pouca quantidade de atores atuando na restauração ou em sistemas agroflorestais. “A gente está num bom momento, que é o de desenvolver um novo mercado. Se formos capazes enquanto país de dar prioridade para isso eu acho que a gente tem o potencial de ser um grande provedor de soluções baseadas em natureza e de longe fazer do Brasil um dos países mais competitivos do mundo nisso”, completa Ortega.
Por Cleyton Vilarino — São Paulo, Globo Rural